Next: O Problema da Corda
Up: Funções de Bessel e
Previous: Funções de Bessel e
Funções de Bessel de primeiro tipo e de ordem
,
,
são soluções da seguinte classe de equações diferenciais ordinárias
![$\displaystyle x^2 \frac{d^2}{dx^2}y(x) + x \frac{d}{dx}y(x) + \left(x^2 - \nu^2\right) y(x) = 0 \, ,$](img3.png) |
(1.1) |
onde
é uma função a valores reais, contínua e pelo
menos duas vezes diferenciável. A equaçào acima pode ser resolvida
aplicando-se o chamado Método de Frobeniüs. A idéia consiste, essencialmente, em
supormos que a solução de (1.1) seja dada por uma série de
potências com coeficientes a determinar. Assim, escrevemos uma solução
de (1.1) como
![$\displaystyle y(x) = \sum_{n=0}^{\infty } c_n x^{n + \gamma} \, ,$](img5.png) |
(1.2) |
onde
é um parâmetro a mais a ser determinado junto com
o coeficientes
. Como por hipótese (1.2) é solução de
(1.1), fazendo a substituição, obtemos
Arrumando os termos de forma mais apropriada, temos
Tomando agora
na segunda soma, escrevemos
Note que as duas somas da última expressão são completamente
independentes. Assim, podemos por
, o que resulta em
É conveniente agora escrevermos os dois primeiros termos da primeira
soma explicitamente e deixar o resto dos termos apenas sob um
somatório que vai de
até o infinito. Com efeito,
Colocando em evidênciando o fator
, para
, temos
Essa expressão nos diz que a série do lado esquerdo é identicamente
nula. Logo, todos os seus coeficiente devem se anular. Como
conseqüência, valem as seguintes relações para os coeficientes
:
![$\displaystyle \left(\gamma^2 - \nu^2\right) c_0 = 0 \, ,$](img20.png) |
(1.3) |
![$\displaystyle \left[(1 + \gamma)^2 - \nu^2\right] c_1 = 0 \, ,$](img21.png) |
(1.4) |
![$\displaystyle c_n = - \frac{1}{(n+\gamma)^2-\nu^2} \, c_{n-2} \, ,$](img22.png) |
(1.5) |
para
. Observe agora de (1.5) que todos os
coeficientes de índice par maior do que zero (i.e.,
) são proporcionais à
. Da mesma forma, os coeficientes de
índice ímpar são proporcionais à
. Portanto, se tentarmos
satisfazer as relações (1.3) e (1.4) fazendo a
escolha ingênua
, acabaríamos com
para todo
. Obviamente esta é uma solução trivial de
(1.1) a qual não estamos interessados. Por outro
lado, as relações (1.3) e (1.4) podem ser satisfeitas
simultâneamente de duas outras maneiras distintas, sem que acabemos
com a solução trivial. Uma delas é tomar
e
. Outra é
e
. Não é difícil perceber que quaquer
uma dessas duas escolhas nos leva à verificação das relações (1.3)
e (1.4). Vamos considerar, inicialmente, a primeira opção, ou seja
e![$\displaystyle \hspace{1cm} c_1 = 0 \, .$](img35.png) |
(1.6) |
Uma vez que
foi escolhido nulo, de acordo com (1.5),
todo coeficiente de índice ímpar também deverá ser nulo, i.e.,
![$\displaystyle c_{2n+1} = 0 \, ,$](img36.png) |
(1.7) |
para todo
. A condição
nos dá duas
possibilidades para o valor de
:
ou
. No primeiro caso, pela
relação (1.5), teríamos
![$\displaystyle c_p = - \frac{1}{(p+\gamma_{+})^2 - \nu^2} \, c_{p-2} = - \frac{1}{p^2 +2p\nu} \, c_{p-2}$](img40.png) |
(1.8) |
para todo
par,
. Ou seja,
![$\displaystyle c_{2n} = -\frac{1}{4n^2 + 4n\nu} \, c_{2(n-1)} = -\frac{1}{2^2 n(n + \nu)} \, c_{2(n-1)} \, ,$](img43.png) |
(1.9) |
para todo
. Por outro lado, quando
, segue também de (1.5) que
![$\displaystyle c_p = - \frac{1}{(p+\gamma_{-})^2 - \nu^2} \, c_{p-2} = - \frac{1}{p^2 - 2p\nu} \, c_{p-2}$](img45.png) |
(1.10) |
para todo
par,
. Quer dizer,
![$\displaystyle c_{2n} = -\frac{1}{4n^2 - 4n\nu} \, c_{2(n-1)} = -\frac{1}{2^2 n(n - \nu)} \, c_{2(n-1)} \, ,$](img46.png) |
(1.11) |
para todo
.
As expressões (1.9) e (1.11) nos dão, de
forma recursiva, os coeficientes de índice par da expansão
(1.2) sugerida como solução de
(1.1). Lembremos que os coeficientes de índice ímpar são
todos nulos devido à escolha (1.6). Observe agora que como
e
, a expressão
(1.11) é inconveniente quando
for igual à algum
inteiro positivo. De fato, suponha, por exemplo, que
, onde
. Então, o coeficente
não estaria bem
definido, pois, de acordo com (1.11), teríamos
uma divisão por zero. Isso, entretanto, nunca ocorre com a expressão
(1.9) como pode ser notado claramente. A solução
encontrada para
é, portanto, problemática
quando
for algum número inteiro positivo. Caso contrário (
não inteiro), as expressões (1.9) e (1.11)
fornecem duas soluções linearmente independentes da equação (1.1).
A solução das equações (1.3), (1.4) e
(1.5) foi obtida mediante a escolha
(1.6). Entretanto, também poderíamos ter escolhido
e![$\displaystyle \hspace{1cm} c_0 = 0$](img51.png) |
(1.12) |
para resolver o problema. Deixamos para o leitor verificar que a
escolha acima leva exatamente à mesma solução que a obtida no caso
anterior. Portanto, as escolhas (1.6) e (1.12) são
equivalentes.
Vamos estudar melhor a solução obtida em (1.9). Note que quando
não for um inteiro positivo, os coeficientes em (1.11)
são obtidos dos coeficientes em (1.9) pela substituição
. Dessa forma, analisaremos apenas a solução
referente aos coeficientes em (1.9). Como
para
todo
ímpar, uma solução de (1.1) pode ser escrita como
![$\displaystyle y(x) = \sum_{n=0}^{\infty } c_{2n} x^{2n + \gamma} \, ,$](img55.png) |
(1.13) |
onde, como vimos,
e
é dado por
(1.9), para todo
.
Vamos mostrar por indução em
que
![$\displaystyle c_{2n} = \frac{\displaystyle (-1)^n}{\displaystyle 2^{2n} \, n! \, \prod_{r=0}^{n-1} (n+\nu - r)} \, c_0$](img59.png) |
(1.14) |
Primeiramente notemos que para
a relação é trivialmente verificada.
De fato, pondo
em (1.14), temos
![$\displaystyle c_{2} = - \frac{1}{\displaystyle 2^{2} (1 + \nu)} \, c_0 \, ,$](img61.png) |
(1.15) |
exatamente como em (1.9). Suponha agora, como
hipótese de indução, que
![$\displaystyle c_{2(n-1)} = \frac{\displaystyle (-1)^{(n-1)}}{\displaystyle 2^{2(n-1)} \, (n-1)! \, \prod_{r=0}^{n-2} (n - 1 +\nu - r)} \, c_0$](img62.png) |
(1.16) |
e vamos mostrar (1.14). Pelas relações (1.9) e
(1.16), segue que
como queríamos demonstrar.
Com a expressão (1.14) em mãos, podemos expressar todos os coeficientes
de uma forma muito mais elegante, escrevendo-os apenas em
termos do coeficiente
, do parâmetro
e da ordem
. Com efeito,
![$\displaystyle y(x) = \left(\sum_{n=0}^{\infty } \, \frac{\displaystyle (-1)^n}{...
... 2^{2n} \, n! \, \prod_{r=0}^{n-1} (n+\nu-r)} \, x^{2n+\nu} \right) \, c_0 \, .$](img67.png) |
(1.17) |
A expressão anterior é uma solução da equação diferencial ordinária de
segunda ordem (1.1). Gostaríamos de frizar que, como
série de potências, a solução acima faz sentido. De fato, o fator
no
denominador dos coeficientes da série faz a mesma convergir
rapidamente (a convergência é uniformemente!) para todos os valores de
. Note que apenas o termo fatorial no denominador já seria
suficiente para garantir a convergência uniforme da série. Esse é o
caso, por exemplo, da função exponencial
No caso onde
não é um parâmetro inteiro, temos uma outra solução
da equação (1.1) que é obtida de (1.17)
pela substituição
. Essas duas soluções são
linearmente independentes e constituem uma base à solução geral de
(1.1) (
não inteiro!), a qual pode ser escrita como
onde
e
são constantes arbitrárias.
Para terminar esta seção, vamos reescrever a solução
(1.17) de uma forma mais conveniente, de forma que possamos
identificá-la com a chamada função de Bessel de ordem
conhecida
da literatura. Lembremos, inicialmente, da definição da função
:
![$\displaystyle \Gamma(x) := \int_0^\infty e^{-t} t^{x-1} \, dt \, .$](img75.png) |
(1.18) |
Essa função exibe a importante propriedade de que
![$\displaystyle \Gamma(x+1) = x\Gamma(x) \, ,$](img76.png) |
(1.19) |
para todo
. A demonstração desse fato pode ser feito
mediante uma integração por partes em (1.19). Omitiremos os
detalhes. Observe agora que
como conseqüência imediata da propriedade (1.20). Dessa
forma, reescrevemos a solução
dada em (1.17) como
![$\displaystyle y(x) = \left(\sum_{n=0}^{\infty } \, \frac{\displaystyle (-1)^n}{...
...n! \, \Gamma(n+\nu+1)} \, x^{2n+\nu} \right) \, 2^\nu \Gamma(\nu+1) \, c_0 \, .$](img80.png) |
(1.20) |
Já que
é uma constante (não depende nem
de
e nem de
), podemos expressar
como
![$\displaystyle y(x) = c \, J_{\nu}(x) \, ,$](img82.png) |
(1.21) |
onde
é uma constante e
![$\displaystyle J_{\nu}(x) := \sum_{n=0}^{\infty } \, \frac{\displaystyle (-1)^n}{\displaystyle 2^{2n+\nu} \, n! \, \Gamma(n+\nu+1)} \, x^{2n+\nu}$](img84.png) |
(1.22) |
é a camada Função de Bessel de primeiro tipo e ordem
. Portanto, no caso em que
não é um número inteiro
positivo, podemos escrever a solução mais geral da equação
(1.1) como
![$\displaystyle y(x) = c_{+} \, J_{\nu}(x) + c_{-} \, J_{-\nu}(x) \, ,$](img85.png) |
(1.23) |
onde
e
são constantes arbitrárias. Funções de Bessel
de primeiro tipo e ordem
,
não inteiro, constituem,
portanto, uma base para o espaço de soluções da equação diferencial
(1.1). Por outro lado, quando
for um inteiro,
temos apenas uma solução bem definida, a saber aquela dada por
(1.22) e (1.23). Uma outra solução,
linearmente independente a essa, envolve uma função não-analítica em torno
da origem (singular) a qual não pode ser expressa em forma de uma
série de potências como em (1.2). Essa solução singular (no
caso
inteiro) é conhecida como função de Bessel de segundo tipo
e ordem
, ou função de Neuman de ordem
.
Estaremos, a seguir, estudando uma aplicação simples em física na qual nos
deparamos com o problema de resolver uma equação diferencial do tipo da
(1.1). Para isso, escreveremos nossa solução em termos
das funções de Bessel introduzidas aqui.
Next: O Problema da Corda
Up: Funções de Bessel e
Previous: Funções de Bessel e
Daniel Augusto Cortez
2002-07-12